Em parceria com o sol, o vento é mais uma força da natureza que está nos ajudando a limpar a produção de energia ao redor do mundo, descarbonizando a economia e combatendo o aquecimento global.
Em um outro post recente aqui no blog, já vimos que a geração eólica faz muito sucesso no Brasil depois de ter experimentado um verdadeiro “boom” em vários países a partir dos anos 1990. Vale, portanto, conhecer um pouco mais da dimensão global desse desenvolvimento acelerado, após importantes avanços tecnológicos e do reconhecimento de um imenso potencial a ser aproveitado.
Retrato atual
Milhares de aerogeradores transformaram paisagens mundo afora. Funcionam bem em planícies, montanhas, praias e até em alto mar. Fornecem energia a preços camaradas, graças a uma ampla escala de implantação em todos os continentes, que alcança os lugares mais remotos do planeta, contribuindo para redução de custos. E a multiplicação de usinas não para de crescer, mesmo após o baque econômico da pandemia de COVID 19.
Para se ter uma ideia, de 2015 a 2019, os investimentos em expansão da capacidade chegaram a US$ 652 bilhões, segundo dados do Global Wind Energy Council (GWEC). Hoje há em torno de 837.000 Megawatts (MW) de potência instalada, o que coloca a fonte eólica em terceiro lugar no ranking global, atrás da solar e da hidráulica. Esta última segue, por enquanto, na liderança.
Quase metade desse montante geral está concentrado na China, que ostenta mais de 460.000 MW instalados. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com algo em torno de 350.000 MW. O Brasil está na sexta colocação, somando 21.500 MW.
Parece pouco, mas não é. Simplesmente porque aqui, o fenômeno do investimento eólico só engrenou mesmo a partir de 2009, a partir de uma política mais gradual, dando tempo para que o conteúdo local se estabelecesse. Hoje, grandes fabricantes de equipamentos estão atuando no Brasil e até exportando produção, caso da Vestas, Aeris, Siemens Gamesa, entre outros.
Voltando ao panorama global, a ideia, aponta a GWEC, é tentar aumentar drasticamente o total de capacidade atual para 2.000.000 MW, até 2030. Isso criaria um investimento anual adicional de, no mínimo, US$ 207 bilhões, e de US$ 2 trilhões, no máximo, com a criação de milhares de empregos.
Lembrando que, além das fábricas de equipamentos eólicos, esse impulso movimentaria também todo um leque de outros setores, como o de transmissão de energia. Estamos falando em toneladas de torres metálicas e centenas de quilômetros de cabos elétricos necessários à montagem das redes elétricas destinadas ao escoamento da produção da energia a ser ofertada.
Tecnologia do Velho Oeste
A geração de energia elétrica a partir do aproveitamento da força dos ventos teve origem mais destacada na década de 1880, nos Estados Unidos. Já era vista como uma opção interessante para áreas rurais e a história registra o uso das primeiras turbinas no Estado de Ohio. Praticamente, aproveitava-se as mesmas estruturas até usadas para acionar mecanismos de bombas de água. Hollywood, aliás, tornou famoso esse tipo de “catavento” em filmes westerns.
Lá pelo fim do século 19, na Dinamarca, com base em milenares conhecimentos nórdicos de navegação a vela, começaram a surgir os primeiros aerogeradores já com aparência um pouco mais próxima dos atuais. As torres tinham quase 28 metros de altura e a turbina contava com quatro pás. A destinação da pouca energia produzida, porém, era mais para consumo local.
Uma virada significativa, pode-se dizer, começou a acontecer na década de 1970. Naquele momento, quando os países produtores de petróleo resolveram supervalorizar sua importância econômica mundial, os preços dos combustíveis dispararam. Foi aí que os governos do mundo todo perceberam o quanto era delicado – e muito arriscado – depender muito de derivados de origem fóssil, passando, portanto, a valorizar mais as fontes alternativas.
Rumo ao céu
Muito dinheiro passou a ser investido em pesquisa, com esforços voltados para o desenvolvimento das energias renováveis. O primeiro conjunto de aerogeradores de maior porte – agrupamentos hoje conhecidos como parques ou fazendas – foi inaugurado em 1982, na Grécia. Eram apenas cinco unidades, cada uma com capacidade de apenas 20 kilowatts (kW) cada, com torres de 25 metros de altura.
Com o passar do tempo, a tecnologia foi sendo aperfeiçoada, ganhando melhor rendimento. Partiu-se, gradativamente, para a construção de sistemas com dimensões maiores. Torres mais elevadas, afinal, permitem o aproveitamento de ventos muito mais fortes.
Em 1988, a altura das torres já estava na casa de 30 metros, segurando no topo turbinas de 75 kW de capacidade, com pás de 20 metros de diâmetro. Pouco ainda, diante do que estava por vir. Porque, de 2002 em diante, o setor passou a contar com torres de, pelo menos, 100 metros de altura e rotor de 80 metros de diâmetro, com potência de 2.500 kW – 2,5 MW. Já há no mercado atualmente empresas que oferecem torres com 120 metros de altura e turbinas com 5 MW de potência, para uso em parques “onshore”, ou seja construídos em solo firme.
Desbravando a fúria dos ventos oceânicos
Mas, a indústria eólica não se cansa de superar recordes. A partir de 1990, na Dinamarca – sempre os nórdicos -, começaram a surgir os primeiros parques “offshore”. Ou seja, agrupamentos de torres instaladas em fundações fincadas no fundo do mar. Nesse segmento da indústria, em especial, os números e dimensões são, no mínimo, impressionantes para suportar a fúria dos elementos e tirar deles o máximo proveito.
A General Electric, por exemplo, estreou comercialmente no ano passado, na região dos Países Baixos, o seu Haliade-X: um gigante com 248 metros de altura – pouco menos do que uma Torre Eiffel –, com rotor de 107 metros de diâmetro e potência de 14 MW.
O Brasil, em particular, mesmo ostentando um extenso litoral de milhares de quilômetros, ainda não possui parques “offshore”. Mas estamos bem próximos de começar a ter investimentos nessa área. Há muitos investidores de peso internacional de olho no potencial da nossa zona costeira. A regulamentação foi recém-aprovada pelo governo federal e há uma curva de aprendizado, principalmente em relação às questões envolvendo licenciamento.
Desafio ambiental X ganho social
Renovável e mais limpa, a fonte eólica, assim como a solar, no entanto, de uma forma ou de outra, ainda está distante da perfeição. Entidades ambientalistas entendem que os aerogeradores fazem ruído demais quando em operação. Também são considerados uma ameaça às correntes migratórias de pássaros. Sem se falar que algumas regiões litorâneas acabaram tendo paisagens bastante modificadas pelos grandes agrupamentos de aerogeradores que chegam a ter muitas centenas unidades.
A indústria vai procurando resolver algumas questões na medida do possível. Na Alemanha, a Siemens Gamesa começou a instalar turbinas dotadas de pás 100% recicláveis. Essa tecnologia foi desenvolvida, aliás, na Dinamarca.
Em contrapartida, o setor de geração eólica trouxe um ganho socioambiental que está fazendo sucesso e modificando a trajetória histórica de alguns dos lugares mais pobres e longínquos do sertão do Nordeste, onde os regimes de vento são muito favoráveis à produção de eletricidade. As empresas geradoras estão pagando aluguel aos pequenos proprietários de terras para poder instalar suas usinas eólicas, levando renda e progresso a localidades remotas.